Um breve estudo biblico sobre a Trindade:
O Novo Testamento é explícito ao afirmar que há três Pessoas divinas (Mt 3:16; 28:19; Mr 1:10; Lc 3:22; Jo 1:32; 14:16, 26; At 1:1-4; 2:32-33, 38-39; 4:8-10, 24-26; 5:31-32; 7:55-56; 10:46-48; 1Co 12:4-6, 9-11; 2Co 13:14; Ef 1:13-17; 4:4-6; Tt 3:4-6; 1Pe 1:2; Jd 20-21; Ap 1:4-5). Na obra da criação, o Pai fez todas as coisas por meio do Filho, uma Pessoa distinta (Jo 1:3, 10; At 3:15; Ef 3:9; Cl 1:16; Hb 1:2, 10; 2:10). O Espírito Santo também participou da criação, principalmente concedendo vida aos seres (Gn 1:2; Jó 26:13; 33:4; 34:14; Sl 33:6; 104:30; Is 40:13; Ez 37:9, 10; Jo 6:63; Rm 8:2, 11; Ap 11:11).
Na obra da redenção, igualmente, há funções distintas entre as três Pessoas, sendo que estas não devem, portanto, ser confundidas. O Pai “planejou” a redenção, enviou ao mundo o Filho (Jo 3:16-17; Gl 4:4; Ef 1:9-10) e nos “escolheu” em Cristo antes da criação (Rm 8:29; Ef 1:3-4; 1Pe 1:2). Jesus falou sobre um “outro Consolador”, distinto dEle mesmo (Jo 14:16), o Espírito Santo (Jo 14:26; 15:26), que seria enviado pelo Pai e pelo Filho (Jo 14:26; 15:26; 16:7). É papel do Espírito Santo salvar-nos (Jo 3:5-8; Rm 8:6, 13-16; 15:16; 1Co 6:11; 2Co 1:22; 5:5; Ef 1:13; 4.30; Gl 6:8; Tt 3:4, 5; 1Pe 1:2; 1Jo 5:4), santificar-nos (Rm 8:13; 15:16; 1Co 3:18; 2Ts 2:13; Tt 3:5; 1Pe 1:2) e fortalecer-nos para o serviço (At 1:8; 1Co 12:7-11). Não há diferença em divindade, atributos ou natureza entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo; cada Pessoa é plenamente Deus e tem todos os atributos de Deus. As únicas distinções entre os membros da Divindade estão nas formas como Se relacionam uns com os outros e com o restante da criação. Podemos dizer que entre Eles há igualdade ontológica ou essencial (no ser) e distinção econômica ou funcional (nos papéis).
O Espírito Santo é uma Pessoa distinta do Pai e do Filho e é, igualmente, Deus (At 5:3, 4; 1Co 2:10, 11; 3:16) e o Senhor da igreja (At 13:2, 4; 20:28; 1Co 3:17-18; 2Co 3:17, 18). Ele é um ser pessoal, pois Jesus Se refere a Ele com um pronome masculino, embora a palavra “espírito” seja neutra em grego (Jo 14:16, 17, 26; 15:26; 16:7-15); pode ser entristecido (Ef 4:30); expressa Sua vontade (At 2:4; 11:28; 15:28; 16:6, 7; 20:28; Rm 8:27; 1Co 12:11); pode-se blasfemar dEle (Mt 12:31, 32; Mc 3:29; Lc 12:10); guia (Ez 8:3; 11:1, 24; Mt 4:1; Mc 1:12; Jo 16:13; At 13:4; 15:28; 16:6, 7; Rm 8:14; Gl 5:18; Fpl 1:19); intercede por nós diante do Pai sendo, portanto, uma Pessoa distinta (Rm 8:26, 27; Ef 2:18) e ensina (Lc 12:12; Jo 14:26; 1Co 2:10, 13).
Mesmo no Antigo Testamento há evidências de que existe mais de um Ser (ou Pessoa) na Divindade (Gn 1:26; 3:22; 11:7; Sl 45:6-7; Is 6:8; 42:1; 48:16; 61:1). A grande maioria dos estudiosos tem percebido que o “Anjo do Senhor”, personagem mencionado principalmente no Antigo Testamento, é o próprio Deus (Gn 16:10, 13-14; 21:17-18; 22:11-12; 31:11, 13; 48:15-16; Êx 3:2, 4 [ver At 7:35, 38]; Nm 22:31-35, 38; Jz 6:11-24; 13:18, 20-23; Os 12:3-4 [ver Gn 32:26, 30]; Zc 3:3-4). Mas em Is 63:9, este Anjo é uma Pessoa distinta de Deus, embora tenha participado ativamente na salvação do povo de Israel. Em Êx 23:20-23, o Anjo do Senhor (novamente distinto de Deus) possui autoridade para perdoar ou não as transgressões dos israelitas e os conduz até a terra prometida. Vemos em Ml 3:1 que o caminho para a vinda deste Anjo seria preparado por um “mensageiro”, identificado no Novo Testamento com João Batista (Mt 11:10-11; Lc 7:27-28; cf. Lc 1:76). Além disso, a própria expressão “Anjo do Senhor” mostra que Ele é distinto do “Senhor” ou Deus. Por essas e outras razões, praticamente todos os eruditos bíblicos concordam que o “Anjo do Senhor” é Cristo na antiga dispensação.
O fato de ser utilizada a palavra “Anjo” para Cristo não deveria surpreender-nos, pois o termo significa “mensageiro” e também é aplicado, nas línguas originais da Bíblia, a profetas (2Cr 36:15, 16; Ag 1:13; Ml 2:7; Mt 11:10; Mr 1:2; Lc 7:27), reis (2Sm 11:1) e outros mensageiros não “angelicais” (Gn 32:3, 6; Nm 20:14; 21:21; 22:5; 24:12; Dt 2:26; Js 6:17, 25; 7:22; Jz 6:35; 7:24; 9:31; 22:12-14, 17, 19; 1Sm 6:21; 11:3-4, 7, 9; 16:19; 19:11, 14-16, 20-21; 23:27; 25:14, 42; 2Sm 2:5; 3:12, 14, 26; 5:11; 11:4, 19, 22-23, 25; 12:27; 1Re 7:15; 14:8; 16:7; 17:4; 19:2, 9, 14, 23; 22:13; 2Re 5:10; 6:32-33; 9:18; 10:8; 1Cr 14:1; 19:2, 16; 2Cr 18:12; 35:21; 36:15-16; Ne 6:3; Jó 1:14; 33:23; Pv 13:17; 17:11; Is 14:32; 18:2; 30:4; 33:7; 37:9, 14; 44:26; Jr 27:3; Ez 17:15; 23:16, 40; 30:9; Na 2:13; Lc 7:24; 9:52; Tg 2:25; Ap 1:20; 2:1, 8, 12, 18; 3:1, 14). Que título mais apropriado poderia ser dado a Cristo que, no Antigo Testamento, aparecia aos homens e lhes revelava a Deus, ainda que não de forma permanente ou plena, como nos tempos da nova aliança?
O Novo Testamento confirma esse fato, mostrando que os antigos profetas hebreus haviam falado “pelo Espírito de Cristo” (1Pe 1:11), acrescentando que Jesus é a maneira pela qual Deus fala aos seres humanos (Mt 11:27; Lc 10:22; Jo 1:18; 12:45; 14:6-10; 1Jo 1:2), que Ele é a “imagem do Deus invisível” (Cl 1:15; ver 2Co 4:4) e o “resplendor da glória” e “expressão exata” de Deus (Hb 1:3). Embora Cristo seja muitas vezes chamado de Deus (Is 9:6; Mt 1:23; Jo 1:1 e 18; 20:28; At 20:28; Rm 9:5; Tt 2:13; Hb 1:8; 2Pe 1:1; 1Jo 5:20), quando Ele é mencionado junto com o Pai, este último leva o título de “Deus”, enquanto que o próprio Cristo recebe outros nomes (ver, por exemplo, Jo 17:3; 1Co 8:6; Ef 4:5-6; 1Tm 2:5). Quando as Escrituras mostram que o “Anjo do Senhor” é uma Pessoa distinta de “Deus”, podemos entender que Ele é distinto dAquele que é chamado de “Pai” no Novo Testamento. Deus não passou a ter um “corpo humano espiritual” no Novo Testamento, pois Sua forma nunca foi vista pelo ser humano pecador Deus (Êx 33:20; Dt 4:12; Jo 1:18; 5:37; 6:46; 1Tm 1:17; 6:16; 1Jo 4:12). Cristo ressuscitou em “corpo humano espiritual”, ou seja, um corpo semelhante ao nosso, de carne e ossos, mas perfeito e glorificado (Lc 24:36-43; 1Co 15:45-49; Fp 3:2-21).
O fato de que, em Jesus, “habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade” (Cl 2:9) não significa que nEle habitam “o Pai, o Verbo e o Espírito Santo”. A palavra utilizada aqui é “theotes” (essência de Deus), que é diferente de “theiotes” (qualidades ou atributos de Deus). Isso significa que, em Jesus, existe toda a essência da natureza divina ou a plenitude da imagem de Deus, a duplicata exata ou reprodução exata de Deus (Hb 1:3). Tudo que faz com que Deus seja Deus existe em Jesus. O fato de que o “Verbo” estava “com Deus” (Jo 1:1-2) mostra que Ele é distinto de Deus Pai. Antes da criação, o Pai (Jo 17:1, 5, 24, 25) já partilhava da Sua glória com Jesus (verso 24). Para que Jesus possa interceder diante do Pai, é necessário que Eles não sejam a mesma Pessoa (Hb 7:25; 1Jo 2:1).
Não somente a palavra Verbo é utilizada para Ele antes de nascer de Maria como ser humano; aliás, esta expressão é utilizada somente na literatura de João (Jo 1:110, 14; 1Jo 1:1; Ap 19:13). Em Ap 19:13 quem retorna para o Juízo Final é o “Verbo”. Cristo é chamado de “Filho” antes mesmo de vir ao mundo (Jo 3:16-17; Rm 8:29; Gl 4:4; Ef 3:8-9). Foi através do “Filho” (Cl 1:13) que Deus criou todas as coisas (versos 15-17; ver Hb 1:2). No entanto, o termo “Filho” é somente uma expressão que designa o fato de que Jesus é igual ao Pai (Jo 5:18) e faz alusão ao fato de que Ele foi gerado pelo Espírito Santo e nasceu de Maria (Mt 1:18, 20; Lc 1:35). As Escrituras são claras ao afirmar que Cristo existe desde toda a eternidade e nunca teve um começo: Ele é “o primeiro e o último” (Ap 2:8; 22:13; cf. Is 44:6; Ap 1:8, 17; 21:6), “o Alfa e o Ômega” (22:13), o “Deus Forte, Pai da Eternidade” (Is 9:6) e Aquele “cujas saídas são desde os... dias da eternidade” (Mq 5:2). Ele existe antes de todas as coisas (Jo 1:1, 2; 17:5 [cf. Is 42:8], 24; Cl 1:17; Hb 7:3; 1Jo 1:1). Cl 2:2-3 afirma simplesmente que Cristo é o “mistério de Dus” e que o plano de salvação esteve oculto na mente de Deus desde os tempos eternos, mas foi manifestado nos dias dos apóstolos pela vida de Cristo (Ef 3:4-5; Cl 1:26-27; 4:3).
O nome Jeová não existia nos originais da Bíblia. Os judeus do tempo do Antigo Testamento, que utilizavam somente consoantes, se referiam ao nome proprio Deus como sendo YHWH. Esse nome provavelmente era pronunciado como Yahweh. Os judeus, após o exílio babilônico, passaram a ter tão grande respeito a essa palavra, que não era mais utilizado, exceto no dia da Expiação, em que, uma vez por ano, o sumo sacerdote entrava no lugar santíssimo do templo. Em seu lugar, passaram a se referir a Deus como Adonai (meu Senhor), e essa é a palavra lida até hoje nas passagens em que o nome YHWH aparecia no Antigo Testamento. A palavra Adonai era colocada ao lado de YHWH, para advertir o leitor a não pronunciar o nome sagrado. Alguns reformadores protestantes do século 16, que não estavam familiarizados com os costumes judaicos, pensaram que as vogais de Adonai eram as mesmas que havia na palavra YHWH, e criaram a palavra Jeová, que não era conhecida ou usada até então.
Os escritores do Novo Testamento, que falavam grego, utilizaram a palavra Kyrios (Senhor, equivalente de Adonai) para se referir às três Pessoas da Divindade, já que a palavra YHWH não mais era utilizada e jamais era transliterada para o grego. A palavra Kyrios ocorre dezenas de vezes no Novo Testamento, mas citaremos apenas alguns casos para ilustrar. Citando Dt 6:5, Mt 22:37 afirma: “Amarás o Senhor [Kyrios], teu Deus” onde, no Antigo Testamento, era “YHWH, teu Deus”. Mc 12:29 fala sobre o “Senhor [Kyrios], nosso Deus”, citando Dt 6:4. Lc 4:8 diz: “Ao Senhor [Kyrios], teu Deus, adorarás”, que é uma citação de Dt 6:13. Em Rm 10:13 se refere ao “nome do Senhor [Kyrios]”, por uma citação de Jl 2:32. Tg 5:4 utiliza a expressão tão comum no Antigo Testamento, “Senhor [Kyrios] dos Exércitos”, substituindo o nome YHWH por Kyrios.
Muitas vezes essa palavra é aplicada claramente a Jesus; ver, por exemplo, Lc 2:11; 24:34; Jo 20:28; Rm 10:9; 1Co 6:14; 7:12; 12:3; 2Co 4:5; Ef 4:5; Fp 2:11; 4:5; 2Ts 2:2 (cf. Is 13:6-13; Jl 2:2, 11, 31; Sf 1:14); Jd 14. Além disso, muitas declarações de YHWH são atribuídas a Jesus no Novo Testamento; ver 1Sm 2:6 [cf. Jo 10:18]; Sl 102:25; cf. verso 1 [citado em Hb 1:10]; Is 6:3 [cf. 6:10 e Jo 1:40, 41]; 8:13, 14 [citado em 1Pe 2:8]; 40:3 [citado em Mt 3:3; Mc 1:3; Lc 3:4 e Jo 1:23; cf. Lc 1:76]; 41:6 [cf. Ap 2:8; 22:13]; 43:10; 44:6; 47:4 [cf. Cl 1:14]; Jr 23:6; 33:16; Zc 12:4, 10 [citado em Jo19:37]; Ml 3:1 [citado em Mt 11:10; Mc 1:2; Lc 7:27; cf. Lc 1:76]. No entanto, esse termo também é aplicado ao Pai; ver, por exemplo, Mt 21:9, 42; 22:44; 23:39; Mc 12:29; Lc 1:46; Lc 4:8; Tg 5:11; 1Pe 1:25; 2Pe 2:1; Ap 4:11.
O fato de que o nome do Filho de Deus está acima de todo nome não significa que esta palavra específica seja superior aos outros títulos de Deus. Em Fp 2:5 é o nome “Cristo Jesus” que “está acima de todo nome” (verso 9), enquanto que em At 19:17 o nome do “Senhor Jesus” era invocado e em At 4:12 a salvação só pode ser obtida pelo nome de “Jesus” (verso 11). Em outras situações é dito que a salvação é adqurida invocando-se o nome do “Senhor” [Kyrios, YHWH] (At 2:21; Rm 10:13; 2Tm 2:19) ou o nome do “Filho de Deus” (1Jo 5:13). Na cultura bíblica, “nome” indicava o caráter e as qualidades de uma pessoa. Assim, quando as Escrituras de um nome divino deve-se entender as qualidades e o poder de Deus para salvar um indivíduo, e não apegar-se a um nome específico, tal como Jeová, Jesus ou Senhor.
Concluímos, portanto, (1) que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são três Pessoas distintas, mas um só Deus; (2) que Cristo é chamado de “Filho de Deus”, de maneira metafórica, antes mesmo de nascer de Maria; (3) que o termo “Verbo” é aplicado a Ele não somente anter de vir ao mundo, mas em qualquer ocasião; (4) que o Pai estava reconciliando consigo o mundo através de Jesus, e que Eles são distintos; (5) que Deus não passou a ter um “corpo humano espiritual” no Novo Testamento, pois o Pai nunca foi visto; (6) que o nome YHWH (ou “Jeová”) aparece em sua forma traduzida no Novo Testamento e aplica-se às três Pessoas da Divindade; e (7) que os nomes divinos representam as características e poder de Deus em lugar de mera palavra específica.
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